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Projeto autorial Memorial das Águas – Maíra Onofri

7 de março de 2020

Projeto arquitetônico que visa colocar em pauta o tema “água” e suas formas de uso versus a sua disposição no meio ambiente. A água hoje é uma realidade alarmante em nossa sociedade. A possibilidade de escassez deste recurso é cada vez maior e lidamos ainda como problema da pouca conscientização dos usuários deste fato. A situação da água no mundo é bastante complicada já que e extinção deste recurso é um fato que se torna cada vez mais presente em nossas vidas.

Existem alguns estudos que dizem que no ano de 2025 cerca de 3 bilhões de pessoas viverão em países com conflito por falta de água e apenas 1% da água da Terra poderá ser utilizada para o uso e consumo humano. Em uma breve síntese sobre as condições da água, vemos que apesar da Terra ser coberta por cerca de dois terços de água, o planeta está começando a passar por problemas de escassez da mesma.

A situação da água no Brasil é até favorável se analisarmos outros países, pois é nele, que detém 11,6% da água doce superficial do mundo. A região Amazônica é onde reside o maior percentual de água disponível para o uso que é de 70%. Os outros 30% são distribuídos desigualmente pelo Brasil, para atender a 93% da população.

O LUGAR _Memorial das Águas:

A escolha do terreno fez parte de uma vasta pesquisa sobre a existência  da água na cidade de Belo Horizonte e em quais lugares ela ainda era presente. Queria que o terreno não fosse apenas o lugar para a instalação desta edificação, mas que também viesse a acrescentar à mensagem que o Memorial pretender transmitir.

Desta forma, a análise e procura de um terreno que justifique esta arquitetura, foi bastante criteriosa e estratégica, pois analisei “pedaços” na cidade onde ainda existe a presença da Água. Analisei também as bacias hidrográficas, cursos d’água (onde a maioria deles, já estão canalizados e com sistema viário implantados). Baseado nisto, a minha escolha de terreno, foi em uma área próxima a pequena lagoa que hoje, é ocupada pela mineradora “Lagoa Seca”. Localizada atrás da Serra do Curral, mais especificamente a montante da Vila Acaba Mundo no bairro Mangabeiras na região Centro-Sul de Belo Horizonte, esta lagoa, ou jazida, pertence hoje a pesquisas e extensões dos programas da mineradora e segundo informações, esta lagoa hoje, encontra-se desativada nomomento.

Imagem do terreno escolhido visto de cima.

Imagem da cava desativada da Mineradora próximo a Serra do Curral

– Características do local:

Esta área como um todo (Vetor Sul), vem sofrendo uma crise que resulta das pressões que a região sofre com o processo de metropolização, notadamente com o adensamento de população de alta renda, atraída pela qualidade de seus ativos ambientais. O confronto está entre as vocações e potencialidades da área, identificadas e apropriadas pelo setor produtivo, especialmente o mercado imobiliário, com as limitações e impedimentos de sua topografia acidentada e de seus recursos ambientais, questão de importância fundamental para a qualidade de vida na metrópole.

A região centro-sul de BeloHorizonte, mais especificamente no bairro Sion (que é a parte mais alta) é caracterizada pelo adensamento de pessoas com alto poder aquisitivo. Emoldurado pela Serra do Curral e por áreas de preservação e praças, o bairro Sion pode ser considerado um lugar com boa infra–estrutura, lazer e valorização. A proximidade com vias arteriais de acesso rápido como as avenidas Nossa Senhora do Carmo e Afonso Pena, facilitam a realização de atividades rotineiras e têm contribuição fundamental na valorização comercial e expansão do lugar.

A JUSTIFICATIVA _Memorial das Águas:

Segundo a legislação de Belo Horizonte, uma construção de tal caráter nesta região seria inviável. Sendo a Serra do Curral um lugar de preservação ambiental e tombado pelo IPHAN, a lei não permitiria propor a construção de um Museu neste local. Mas como minha proposta aqui é fazer um Ensaio de Arquitetura, tomei a liberdade de projetar um Memorial que fale sobre a água, que comunique algo para as pessoas e que ajude a cidade em diversos pontos trazendo mais visibilidade para a área cultural em BH. Colaborando para o desenvolvimento sócio-cultural, de turismo e de atração para diversas pessoas que venham visitar o local, este projeto colocará Belo Horizonte no contexto cultural de educação ambiental e irá direcionar os usuários sobre a problemática e do polêmico assunto dos recursos hídricos da cidade.

O quadro atual em que se encontra a Serra do Curral é o de um intenso conflito de interesses que pode ter sido acirrado com o tombamento e com outros dispositivos legais de caráter menos permissivos. Dessa maneira, percebe-se uma polarização: de um lado, o interesse pela preservação do patrimônio, e de outro o interesse pelo exercício de atividades privadas que resultem na remuneração dos proprietários de tais terrenos e empreendimentos.

Existe um estudo do Instituto Horizontes sobre as estratégias de ações do Vetor Sul da região Metropolitana de Belo Horizonte onde eles destacam os vários problemas da região, analisam casos e ainda propõem alguns projetos que visam melhorar tanto na articulação entre bairros com a implantação de novos sistemas viários como também estratégias que cessam a degradação ambiental que tem atingido aquela área.

Para a região que escolhi implantar o Memorial, nas intermediações da pequena lagoa, existe um projeto que visa interligar, através de um novo sistema viário (denominado Av. Parque da Serra), a Av. Prof. Cristóvam dos Santos (no bairro Belvedere) com a R. José do Patrocínio Pontes (no bairro Comiteco), conforme imagem abaixo.

Estudo viário da região pelo Instituo Horizontes.

Esta interligação constitui-se em parte do anel intermediário Sul, criando uma alternativa externa à avenida do Contorno para o tráfego entre a Praça da Bandeira e a avenida Raja Gabáglia.

O PROJETO DE ARQUITETURA _Memorial das Águas:

Objetivos:

– Articulação entre os projetos mencionados para a área e exaltar a relação da cidade e arquitetura/urbanismo e sustentabilidade;

– Exercício de investigação e complexidade espacial;

– Harmonizar a relação entre o homem (alterações antrópicas) e o sítio (a infra-estrutura);

– Evidenciar a problemática da água no contexto da nossa sociedade.

Conceitos sustentáveis aplicados:

-Implantação favorecendo ventilação e iluminação natural;

-TelhadoVerde;

-Fazenda de Células Fotovoltáicas (aquecimento solar);

– Captação Água Pluvial (com o “arrimo” no subsolo);
– Entrada do ar frio e expulsão do quente através da abertura no telhado com venezianas;

-Lixo Seletivo;

-Materiais recicláveis;

– Instalação da Drenagem “J” de 10 em 10m fixados a montante em direção à crista da Serra do Curral (sistemas de Macro-Drenagem);

– Dispositivos de Micro-Drenagem como sarjetas, boca-de-lobo e outros ao longo da “via do pedestre” e via local que chega ao Memorial;

– Piso intertravado para infiltração das águas pluviais;

– Lagoa de Acumulação tendo os“ladrões” em locais específicos que direcionam o escoamento das águas para o Córrego do AcabaMundo ,que deságua no Ribeirão Arrudas;

– Tratamento das encostas com vegetação do tipo gramíneas (grama amendoin) ou arbustivas de pequeno porte;

-Uso das Ninféias (plantas aquáticas) que ajudam a limpar a água e serve de ornamentação para a lagoa.

Arquitetura inspirada no movimento Desconstrutivista:

– Abstração formal;

– “Quebra” da malha ortogonal;

– Princípios da decomposição e sobreposição;

– Forma fragmentada;

– Teoria do Fractal (decomposição,no caso em triângulos, da estrutura, mantendo uma certa lógica de malha estrutural);

– Experimentações formais, estéticas e outros.

 

Evolução da volumetria com “massinha”

Volume definido, agora é a Planta de Implantação com o terreno

Planta de Situação mediante alça do projeto do

Instituto Horizontes para a entrada no Memorial

Diagrama básicos de ventos e iluminação

O MEMORIAL DAS ÁGUAS:

Projeto da arquiteta Maíra Onofri

com orientação do arquiteto William Abdalla.

2017

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